Um grupo de participantes teve oportunidade de conhecer de perto os bastidores de uma das maiores obras de engenharia do país, numa visita que juntou história, técnica e emoção.
A partir das 9 e meia da manhã de um dia de setembro, o grupo de cerca de uma dezena de pessoas inscritas no Ciência Viva Verão 2025 foi chegando à Sede da Infraestruturas de Portugal, no Campus do Pragal, para a visita à Ponte 25 de Abril. O primeiro contacto decorreu junto à maquete da Ponte, no átrio do edifício. Foi esclarecedora, proporcionando uma visão da implantação da infraestrutura e dos acessos no território circundante.
Viagem aos anos 60
Já no auditório, a exibição do filme sobre a Ponte sobre o Rio Tejo, filme oficial da década de 60 produzido pela Tobis Portuguesa sob a direção de imagem de Leitão de Barros, foi, sem dúvida, um dos pontos altos da visita, transportando-nos àquela década. Era nítido o fascínio nos olhos de quem observava, mesmo a preto e branco e sem a melhor qualidade, os pequenos clipes de vídeo de muitos momentos da construção da maior empreitada realizada em Portugal no século XX.
O filme permite visualizar as peças a serem construídas e soldadas nas oficinas da Sorefame, empresa portuguesa de estruturas metálicas, responsável pela fabricação de todas as peças metálicas da viga de rigidez e do tabuleiro rodoviário. A manipulação de peças de enormes dimensões por alguns dos 3.000 operários que participaram na construção da Ponte, do aparafusar em cima de vãos, às roldanas a desfiar os impressionantes 54.200 quilómetros do fio de aço do cabo primário entre as duas margens, ou ver as estruturas dos tubos que contêm os cabos de amarração, olhar para betão a ser vertido para preencher os maciços, fizeram os participantes sentir a grandiosidade deste projeto. E capturaram a essência da árdua odisseia que foi a construção da Ponte.
Terminada a exibição de filme, a sensação era de estar na presença da Ponte - em cru, esventrada, visualizando, na nossa mente, a complexidade da empreitada.
Nos bastidores da Obra de Arte
Já apetrechados com os Equipamentos de Proteção Individual, o grupo dirigiu-se para a portaria da IP, para dar início à caminhada na berma da estrada inclinada, com os telemóveis à mão até à entrada da 'Sala de Ancoragem do cabo primário de suspensão, do lado montante, na Amarração Sul'. De forma mais simples, trata-se da entrada no pilar localizado na extremidade Sul da Ponte, mesmo por baixo do tabuleiro.
As expressões nas caras revelavam expetativa pelo que os esperava. De novo agrupados numa plataforma dentro do pilar, desta vez dispostos em semicírculo, os participantes ouviram atentamente Pedro Abegão, responsável pela Gestão Operacional da Ponte, primeiro, a identificar os equipamentos, depois as técnicas de construção de uma ponte suspensa, e de seguida a partilhar alguns dos desafios que se enfrentam na manutenção desta Obra de Arte tão complexa. Detalhou como cada passo da construção exigiu precisão e dedicação, ressaltando a importância de todos os equipamentos de vigilância e medições colocados em pontos fulcrais da infraestrutura, para além da equipa dedicada que diariamente trabalha para a preservação e integridade da estrutura.
No alinhamento da mesma plataforma, o grupo concentrou-se para espreitar pela abertura ao exterior, ainda abaixo do nível do tabuleiro ferroviário. O Pedro, de costas para a Ponte, calava-se sempre que um comboio passava, mas ouvia-se em simultâneo o som característico do tabuleiro rodoviário e o enxame de flashes a tentar captar este novo ângulo lateral do tabuleiro.
O grande momento: subir à Ponte
Entretanto chegou a tão aguardada oportunidade de subir ao nível do tabuleiro ferroviário, duas pessoas de cada vez, assim estipulam as Regras de Segurança. A atmosfera era da adrenalina que corria nas veias de todos. Tinha chegado o grande momento: todos dentro do pilar da estrutura majestosa da Ponte e a antecipar subir mais uma escada para finalmente ‘subir à Ponte’.
O Pedro, que se manteve na berma do tabuleiro ferroviário, recebeu todos os grupos de visitantes, e, atento a cada detalhe, incentivava os presentes a apreciarem não apenas a vista, mas toda a experiência que aquele instante oferecia.
Entre sorrisos e comentários, a escadaria levava e trazia pessoas. Cada um subia em busca de uma perspetiva que prometia ser única. Aquele tabuleiro ferroviário tornara-se não apenas num ponto de observação, mas num palco de memórias que estavam prestes a ser criadas.
‘Tira-me uma com o meu telemóvel, sff!’, ou ‘Para o ano trago a minha mulher, ela não pode perder isto!’, ou, na plataforma interior: ‘Apanharam o comboio? Nós não conseguimos, tivemos de descer’, e ainda, ‘Se eu não tivesse sido a primeira a subir já não ia ter coragem, ainda bem que fui!’.
De volta à estrada, adaptaram os olhos à luz do Sol, e a fotografia de família foi tirada na berma, com o rio pelas costas, em alinhamento com o tabuleiro. Já a subida até ao Campus do Pragal se tornou mais lenta devido ao calor que se fazia sentir na hora do almoço. Esse momento culminou com a devolução dos Equipamentos de Proteção Individual e o registo do testemunho da Ana, uma visitante muito interessada e participativa.
Na IP acredita-se que momentos como estes são fundamentais para fortalecer a relação entre a empresa e a comunidade, além de aumentar a consciencialização sobre a preservação destas estruturas.
* Créditos fotográficos: Ciência Viva